Célula progenitora - Células-Troncos: mitos e verdades

29/12/2008

Dr.ª Erika Barros

 Imagine um mundo em que a paralisia não exista e que um simples enxerto de células devolveria os movimentos a quem sofreu lesão medular em função de acidente automobilístico, ferimento por tiro ou queda. Ou imagine, ainda, um mundo sem atrofiados musculares ou sem portadores da doença de Alzheimer ou do Mal de Parkinson... Sem doentes do fígado ou do coração... Esse é um mundo que promete passar do imaginário à realidade em poucos anos no Brasil.

As pesquisas sobre célula-tronco avançam e estão em vias de serem uma experiência concretamente implementada em humanos, após resultados positivos em experimentos de laboratório. Segundo a ortopedista e traumatologista Érika M. Kalil Pessoa de Barros, chefe do Grupo de Coluna Cervical do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), há vários trabalhos paralelos voltados a pesquisa da cura da lesão medular e a experiência com célula-tronco promete resultados muito positivos no sentido de se substituir a célula morta de determinada região por tecido saudável. Érika é também presidente da Sociedade Brasileira de Estudos da Lesão Medular.

Célula-tronco são células progenitoras, capazes de originar qualquer tipo de célula no organismo, dependendo do meio em que se encontra. Até recentemente encontrada apenas em embriões, trata-se, na verdade, da mais importante célula do corpo humano, já que possui a capacidade de se transformar em qualquer tecido ou órgão perfeitos. Simplificando, pegue uma célula-tronco e implante-a num coração e ela se transforma em célula de coração. Coloque-a num fígado e se transformará em célula de fígado; num cérebro, e ela se torna uma célula cerebral. Essas células-tronco são coletadas do sangue da pessoa, expandidas em cultura laboratorial e reinjetadas perto do local da lesão, com o objetivo de que se transformem na célula faltante. "Assim como células fetais originam um ser humano e essas células se diferenciam pela localização em que se encontram dentro do embrião, há células no corpo adulto que ainda guardam essa capacidade de se desenvolver ou transformar em diferentes tipos de células, dependendo de o­nde elas se encontram", explica a médica.

Segundo ela, é possível mobilizar essas células usando uma substância administrada no paciente adulto: colhe-se a célula saudável, manipula-se com substância química e reinjeta-se no organismo da mesma pessoa, no local o­nde há lesão. O esperado é que essa célula manipulada reproduza-se, substituindo a área lesada com o próprio tecido da pessoa. "Estamos tentando pegar essa célula-tronco, trabalhar essa célula e devolver para o próprio indivíduo, para essa célula interpor no local o­nde existe uma falha, uma lesão, que substitua a função daquele tecido faltante", destaca. Os médicos envolvidos nessa experiência esperam que a célula-tronco implantada se diferencie no organismo, transformando-se na célula do tecido em que foi implantada. "Em animais a gente percebe que essas células acabam se diferenciando no próprio organismo, elas não precisam ser diferenciadas antes, mas não sabemos como vai se comportar em humanos. Existe uma série de possibilidades de falhas no processo, por exemplo, das células não se diferenciarem da forma adequada no organismo. A gente já conseguiu curar rato, mas apesar da dúvida, tenho certeza que vamos conseguir. Há pesquisadores de altíssimo gabarito estudando isso", afirma.

A doutora Érika declara que não só os lesados medulares poderão ser beneficiados. "Há cientistas usando em casos de infarto do miocárdio e em doentes de Parkinson e Alzheimer, para substituir as células que morreram", afirma.

A experiência com célula-tronco no Brasil deixa o campo da teoria e passa a ser implementada na prática, ainda neste mês de abril, com um grupo de 30 lesados medulares. O procedimento foi aprovado pela comissão de ética ligada ao Ministério da Saúde e os resultados devem sair em cerca de cinco anos. "É uma linha muito promissora, estamos extremamente entusiasmados", frisa a especialista.

Apesar do entusiasmo e das expectativas positivas, Érika destaca que não acredita numa solução única, numa cura proveniente exclusivamente da reposição da célula-tronco. "A expectativa é enorme, mas não existe uma garantia absoluta de sucesso. Temos que ter cuidado ao passar as informações para os portadores de deficiência que já tiveram tantas expectativas frustradas, principalmente ao longo dos últimos dez anos", ressalta, acrescentando otimista: "mas é uma linha bastante promissora".



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