Empresas procuram deficientes para cumprir leis de cotas

23/08/2008

No país onde um emprego formal está entre as coisas mais desejadas do mercado, tem empresário reclamando porque possui vagas com carteira assinada para oferecer e não consegue profissionais para preenchê-las. A particularidade é que os postos são destinados às pessoas deficientes, para atender a lei que obriga as empresas com mais de 100 funcionários a reservarem de 2% a 5% das vagas para os portadores de necessidades especiais (PNE).

- Muitas empresas estão com vagas abertas e não conseguem contratar, por várias razões: é difícil encontrar portadores de necessidades especiais qualificados, o tipo de necessidade tem que ser compatível com a função e, muitos não querem ter emprego formal por medo de perder benefícios do INSS. Há uma disputa muito grande por estes profissionais e as empresas estão fazendo leilão, oferecendo salário maior para tirar a pessoa deficiente da outra empresa - diz Luiz Alfredo Porto, diretor de Recursos Humanos, da Gerencial Trade Marketing.

A Gerencial, que trabalha com promotores de vendas para locais públicos, como oferta de cartões de créditos em shoppings e celulares de gôndolas de outras lojas, tem cerca de 4 mil funcionários no país e deveria empregar pelo menos 200 trabalhadores com algum tipo de deficiência.

- Não estamos conseguindo cumprir a cota e temos pelo menos 100 vagas abertas para deficientes. Pedimos segundo 2º grau ou cursando faculdade e oferecemos salário médio de R$ 400, mais benefícios como vale-transporte e tíquete refeição - diz Porto. Quem quiser se candidatar pode mandar um email para [email protected]

Queixa semelhante faz Marcelo Vieira, diretor de RH da Sempre Viva Mineração, Construções e Transportes Ltda, especializada em serviços de detonação de grutas.

- Não há mão-de-obra adequada para cumprirmos as cotas. Nós contratamos pessoas deficientes, mas muito aquém da cota e já fomos até multados. Temos que considerar o risco da nossa atividade, a detonação de explosivos, que é já elevado para quem não tem deficiência. Temos 600 funcionários e apenas 20 na área administrativa, ou seja, nem se colocarmos 100% de PNEs na área administrativa conseguimos cumprir a lei - diz Vieira.

Segundo Marcelo, além da segurança e da falta de qualificação, muitos deficientes não querem emprego com carteira assinada para não perder benefícios dos INSS.

- Há uma resistência em trocar benefício do INSS por um emprego formal, porque se perderem o emprego, o processo para retornar ao INSS é muito difícil e burocrático. Além disso, o governo compete com as empresas por esses profissionais ao reservar 20% das vagas dos serviços públicos para os deficientes - reclama Vieira.

A mineira Fernanda Magalhães de Almeida, 41 anos, é um exemplo desta situação. Por causa de problemas no parto, ela tem uma deficiência motora nas pernas que exige o auxílio de uma bengala para caminhar.

- Trabalho como telefonista, recepcionista e atendimento ao público, mas em esquema de estágio ou contrato por prazo determinado que não assine a carteira. Não posso aceitar nada que assine a carteira porque senão perco a pensão vitalícia que vou receber do meu pai quando ele morrer - conta ela.

Mesmo reconhecendo as dificuldades das empresas para encontrar pessoas com deficiência na quantidade necessária ao cumprimento das cotas (2% para empresas de 100 a 200 funcionários; 3% para entre 200 a 500; 3% para as que têm entre 501 e 1000 e 5% para empresas com mais de 1000 empregados) as entidades que representam os portadores de necessidades especiais argumentam que o maior obstáculo é a falta de interesse das empresas em contratarem esses trabalhadores.

 

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